domingo, 26 de outubro de 2008

A SALA
Existe um lugar entre o sono e o sonhar; e me encontrava nesta sala; tinha uma parede cheia de gavetinhas, cada gavetinha estava cheia de cartõezinhos. Estes cartõezinhos estavam assim como se acham nas bibliotecas, com listas por autores ou títulos, em ordem alfabética. Estes arquivos, que começavam no chão até o teto, se você olhasse de um lado a outro não poderia ver o fim. Quando eu me aproximei da parede de gavetinhas, uma me chamou a atenção, a que dizia: “pessoas que eu gostei”. Eu abri e comecei a olhar os cartões. Eu rapidamente fechei, percebendo que conhecia todos os nomes da lista.Neste momento eu sabia onde me achava. Este lugar com arquivos muito simples, mas tinha tudo de minha vida. Aqui foi escrito todas as ações, por cada momento da minha vida, pequeno ou grande.Eu senti dentro de mim uma curiosidade misturada com horror. Comecei de novo abrindo alguns cartões, alguns trouxe felicidade e memórias boas, outros, vergonha tão forte e lamentações por coisas que eu poderia ter feito.Eu olhei atrás de mim para ver se alguém estava comigo.Um arquivo marcado “amigos” estava perto de outro que dizia “amigos que eu tratei”. Os títulos foram escritos de várias maneiras estranhas “livros que li”, “mentiras que contei”, “conforto que dei”, “piadas que ri”, “coisas que chamei meu irmão”.Tinham outros que eu não podia rir, “coisas que eu fiquei com raiva”, “coisas que resmunguei para meus pais”, os sustos e surpresas nunca paravam pelas coisas que eu encontrava. Alguns tinham mais cartões do que eu esperava e outras tinha menos.Eu fiquei impressionado com o volume de vida que eu tinha feito. É possível que eu tivesse vinte anos para escrever todos esses cartõezinhos? Cada um? Estes milhões de cartões? Mas cada cartão foi confirmado verdadeiro, cada cartão escrito tinha a minha letra, cada um assinado com minha assinatura.Quando eu puxei um arquivo “sons que eu escutei”, percebi que este arquivo crescia. Os cartões eram agrupados bem apertados de dois ou três metros, eu não podia ver o fim. Fechei o arquivo com vergonha, não pela qualidade da música, mas a grande quantidade de tempo que eu sabia ter perdido.Quando fui para o arquivo marcado ”pensamentos ruins”, senti dor em meu coração, queria imaginar as coisas que essa gavetinha tinha a dizer. E pensar que aquele tipo de coisas eram memórias. Quase fiquei louco. Um pensamento estava dominando a minha mente. Ninguém podia ver esta sala. Tenho que destruir tudo. Eu comecei a agarrar as gavetinhas e tentei destruir os arquivos, batendo as gavetas no chão, mas os cartões eram arrumados bem apertados e nada mudou. Eu peguei um cartão, mas era duro, assim como aço. Eu tentei rasgar, mas nada aconteceu. Eu não podia fazer nada. Vencido devolvi a gaveta para o arquivo encostado na parede, eu me senti muito mal e ruim.Um arquivo que dizia: “pessoas com que compartilhei o evangelho”, o puxador era mais brilhante que os outros, mais novo, parecia nunca ter sido usado. Eu abri e a pequena caixa caiu em minhas mãos. Eu podia contar os cartões. Eu comecei a chorar. Sentia muita dor penetrando o meu corpo. Assim eu caí de joelhos e chorei. A vergonha encheu-me. Olhei as filas de gavetas com lágrimas nos olhos. Ninguém pode ver esta sala! Ninguém, nunca! Tenho que trancar e esconder a chave.Quando parei de chorar eu avistei Ele. Oh não! Por favor, não Ele! Não aqui! Qualquer outro! Não Jesus Cristo! Eu vi. Ele começando abrir as gavetas e ler os cartões. Eu não podia olhar a reação. Em alguns momentos eu olhei e vi a reação dele, a tristeza mais profunda que a minha, parece que só abriu os piores arquivos. Por que Ele teve que ler cada um?Finalmente, olhou para mim, com tristeza nos olhos; eu baixei a cabeça, fechei os olhos com as mãos e voltei a chorar. Ele andou para mim e me abraçou. Ele podia dizer tantas coisas, mas não disse nada. Ele chorou comigo.Ele levantou e começou a abrir todos os arquivos e assinar todos os cartões em cima do meu nome. “Não!”. Eu gritei, correndo para Ele. A única coisa que eu podia pensar e dizer. “Não! Não!”. Eu peguei um cartão da mão Dele. O nome Dele não podia estar aqui. Mas estava, escrito em vermelho, tão vermelho, tão escuro, tão vivo. O nome de Cristo cobriu o meu nome. Foi escrito com o sangue Dele.Com gentileza Ele pegou o cartão de mim, sorriu e continuou a assinar. Acho que nunca vou entender como Ele fez aquilo ta rápido, instantâneo. Eu ouvi Ele fechar o último arquivo e andou de novo para o meu lado. Ele colocou a mão nos meus ombros e disse: “TERMINOU”.Eu levantei e nós andamos para fora da sala. Não tinha fechadura, ainda tinha cartões para escrever

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